O Selo e a Circuncisão

A circuncisão foi muito mais que um ritual religioso; ela funcionou como uma garantia divina de que algo maior estava por vir. Para compreender seu verdadeiro significado, precisamos entender como os pactos bíblicos se relacionavam entre si.

A Escritura nos revela diversos pactos que, em sua progressão histórica, apontavam para o grande Pacto da Graça. Os pactos anteriores Abraâmico, Mosaico e outros possuíam seus próprios selos físicos e promessas terrenas, mas todos eles funcionavam como ponteiros para o pacto espiritual e eterno, garantindo aos seus beneficiários que Deus formalizaria o pacto superior que estava oculto. Este Pacto da Graça seria marcado pelo Espírito Santo como selo, abrangeria todas as nações (judeus e gentios) e concederia a verdadeira salvação eterna através da “circuncisão do coração”.

Quando Paulo escreve sobre “os que creem através da incircuncisão” (os gentios), ele está explicando como os pactos anteriores garantiam a formalização do Pacto da Graça. A circuncisão não salvava os gentios diretamente, ela assegurava aos hebreus que Deus cumpriria Sua promessa de incluir todas as nações em um pacto superior.

Imagine um hospital que desenvolveu a vacina contra o Alzheimer, mas ainda não anunciou publicamente. O hospital contrata médicos e enfermeiros para visitar comunidades e explicar como essa vacina funcionará quando for lançada ao público. Os profissionais recebem crachás especiais que os identificam como porta-vozes oficiais do hospital.

Esses crachás credenciam os médicos e enfermeiros a tranquilizar a comunidade, garantindo que a vacina será aplicada em todos quando chegar o momento certo. Enquanto isso, qualquer funcionário do hospital pode tomar a vacina imediatamente, desde que vá ao departamento de vacinas para receber as doses disponíveis privativamente aos empregados. Isso acontece porque os funcionários receberam a graça de trabalhar para o hospital que disponibilizou primeiro a vacina para seus empregados e alguns pouquíssimos cidadãos das comunidades.

Da mesma forma, a salvação pela fé já estava disponível, mas seria revelada aos gentios no tempo de Deus. A circuncisão era como o crachá que credenciava os hebreus a tranquilizar as nações, garantindo que a salvação chegaria a todos. Esta era a missão de dos descendentes de Abraão, proclamar a salvação. Enquanto isso, qualquer hebreu podia acessar essa salvação através da fé, recebendo a circuncisão do coração pelo Espírito Santo, porque receberam a graça de pertencer ao povo que primeiro conheceu o plano de salvação.

A circuncisão nunca foi o selo do Pacto de Graça, mas o selo da Aliança que prometia o Pacto de Graça. O verdadeiro Selo, o Espírito Santo, sempre foi o mesmo para judeus e gentios: um Selo Espiritual que transcende marcas físicas e alcança o coração humano.

Toda descendência natural de Abraão carregava a marca visível desta grande promessa. E hoje, judeus e gentios nascidos pela fé são circuncidados no coração pelo verdadeiro Selo do Pacto eterno.

“E não entristeçais o Espírito o Santo de Deus
em [o qual] [fostes] selados para dia [da] redenção.” 
 Efésios 4:30 – tradução minha

Os pais batistas afirmara esta verdade bíblica:

E para que a circuncisão foi instituída a Abraão? Para selar a mesma promessa: “serás pai de numerosa nação”. […] Abraão teve um descendência dupla, a natural, dos judeus, e a da fé, constituída também dos gentios crentes. Sua descendência natural foi marcada com o sinal da circuncisão, primeiro, de fato, para distingui-la de todas as outras nações enquanto elas ainda não fossem descendência de Abraão, mas, especialmente, para o memorial da justificação dos gentios pela fé, quando, por fim, eles se tornariam descendentes deles. Desse modo, a circuncisão cessaria quando os gentios fossem trazidos à fé, pelo fato de que, então, ela teria alcançado seu último e principal objetivo e, a partir daí,  circuncisão nada seria. – Apêndice original da CFB1689

Em Cristo,
Pr. Renan Abreu.