Benjamin Keach e a Relação Indissociável entre Justificação pela Fé e o Pacto da Graça

A teologia puritana do século XVII oferece insights profundos sobre a relação entre justificação pela fé e o Federalismo Batista. Benjamin Keach (1640-1704), pastor batista e teólogo reformado, apresenta em seu sermão sobre Romanos 8:1 uma perspectiva que esclarece uma questão fundamental: a impossibilidade de estar no pacto da graça sem justificação pela fé.

Keach afirma que toda a humanidade está necessariamente sob um dos dois pactos: o Pacto de Obras (estabelecido com Adão) ou o Pacto da Graça (estabelecido em Cristo). Em suas próprias palavras: “Todos os homens, antes da graça e da união com Jesus Cristo, estão em um estado de condenação porque estão todos sob o pacto das obras.” O teólogo fundamenta esta posição em Romanos 3:19, demonstrando que aqueles que estão “debaixo da lei” estão sujeitos à condenação divina. Ele estabelece que Cristo é “o fim da lei para justiça de todo aquele que crê” (Romanos 10:4), mas ressalta uma distinção crucial: isso vale apenas para os crentes. Para os incrédulos, Cristo não é o fim da lei, permanecendo estes sob o pacto original.

A força do argumento de Keach reside na demonstração de uma impossibilidade lógica e teológica fundamental: nenhum indivíduo pode ter dois cabeças pactuais simultaneamente. Na teologia federal, cada pessoa está representada por um único cabeça federal – ou Adão no pacto de obras, ou Cristo no pacto da graça. Segundo seu princípio da exclusividade pactual, “todos devem estar sob um pacto ou outro, ou no primeiro ou no segundo Adão“, estabelecendo que a representação federal é mutuamente exclusiva. Se fosse possível alguém estar no pacto da graça sem justificação pela fé, essa pessoa teria que permanecer simultaneamente sob Adão (no pacto de obras) e sob Cristo (no pacto da graça), o que constituiria uma contradição teológica impossível. Portanto, a justificação pela fé não é meramente um benefício do pacto da graça, mas o próprio ato de transferência de um cabeça federal para outro, tornando logicamente impossível estar no pacto da graça sem ser justificado.

Esta perspectiva refuta qualquer noção de participação externa no pacto da graça sem salvação eterna, pois não há meio termo entre estar representado por Adão ou por Cristo.

Em terceiro lugar: Todos os homens, antes da graça e da união com Jesus Cristo, estão em um estado de condenação porque estão todos sob o pacto das obras. Se todos os incrédulos estão sob o pacto das obras, então estão sob a culpa e a ira. “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus” (Romanos 3:19). Isso significa estar sujeito ao julgamento e à justa condenação de Deus. Cristo é o fim da lei para justiça de todo aquele que crê (Romanos 10:4); mas não para qualquer outro, não para aquele que não crê. Se apenas os crentes estão sob a nova aliança ou aliança da graça, então todos os que estão em um estado de incredulidade permanecem sob o pacto das obras, e, portanto, sob a maldição e condenação da Lei. Pois todos devem estar sob um pacto ou outro, ou no primeiro ou no segundo Adão”. – KEACH, Benjamin. A Medium Betwixt Two Extremes: A Sermon on Romans 8:1. Londres: [s.n.], c. 1692.

Pr. Renan Abreu